Bom dia, queridos leitores!
O mês de setembro, que costuma ser curto, mas esse ano foi bem longo, chega ao fim. Eu, sempre correndo, não consegui postar muito nas últimas semanas, mas isso não significa que as ideias não tenham surgido.
Uma das melhores novidades dos últimos dias foi a notícia do lançamento de “O retorno do jovem príncipe”. Ainda não li o livro, escrito pelo argentino Alejandro Guillermo Roemmers, sobre como seria se o Pequeno Príncipe do clássico de Saint-Exupéry tivesse permanecido na Terra. Porém, como já fui cativada há muitos anos, acredito que isso será feito em breve.
Existem várias situações do livro “O Pequeno Príncipe” que sempre me voltam à mente. Quem não se lembra, logo no início do livro, quando o piloto/narrador/alter ego do autor fala sobre seus desenhos na infância, e mostra a inesquecível jiboia engolindo um elefante? Depois de muitos adultos só enxergarem um chapéu na ilustração, ele diz que foi assim que, aos seis anos, abandonou uma promissora carreira de pintor.
Saindo da ficção para a vida real, percebe-se que muita gente já viveu algo semelhante. Nós, adultos, presos a números e resultados, nos esquecemos de enxergar o que está além: as verdadeiras habilidades. São muitos os pais que empurram “de goela abaixo” as carreiras que seus filhos devem seguir, às vezes porque aquela área dá dinheiro, ou porque é a mesma que eles seguiram, ou porque é aquela que eles queriam ter seguido, mas não tiveram oportunidade. E assim encontramos um exército de profissionais frustrados e infelizes, filhos de papais e mamães contentes que exibem seus troféus em forma de diploma.
Às vezes, a carreira que escolhemos não dá o retorno que esperávamos no início, ou nos desencantamos com as opções que a área à qual nos dedicamos durante tanto tempo de nossas vidas oferece. Nessas horas, voltemos à infância, à adolescência, e lembremos: do que nós mais gostávamos?
Sei de vários exemplos que deram certo, como o do amigo que só pensava em videogame e computador e hoje tem essas duas ferramentas como instrumentos da sua profissão. Os adultos tolhem os interesses das crianças e adolescentes, enxergam aquilo como distração, dizem que atrapalha na escola e não fazem o caminho inverso, ou seja, o de estimular o uso daquilo em benefício do futuro profissional em formação. Será que os jovens que adoram festas não podem vir a serem grandes organizadores de eventos? Ou a jovem que adorava música, shows e videoclipes não poderia se tornar uma grande produtora cultural? Os que têm habilidades esportivas, ou musicais, ou cênicas, não podem fazer delas suas profissões?
Lembro-me de uma fase da minha vida, na virada da infância para a adolescência, em que eu fazia pinturas abstratas com tinta guache. Adultos enxergavam rabiscos, somente. Ninguém reparava a escolha das cores e o posicionamento delas no papel. Depois, lembro-me de fazer o mesmo no Paint (sim, o bom e velho acessório do Windows) e de alguém me dizer que eu devia ter problemas, pois me ocupava com “o nada”. Ouvindo isso, passei a salvar as imagens que eu fazia e a dar-lhes nomes nos arquivos, assim, elas deixavam de ser “o nada” e a tão necessária explicação era encontrada rapidamente. Hoje, vejo pessoas ganhando muito dinheiro vendendo quadros com formas difusas, traduzindo impressões de seus criadores, e pergunto se alguém chamou de “nada” o que eles faziam quando jovens ou se, ao contrário, alguém os encaminhou ao aprendizado formal para lapidar aquela habilidade.
E assim vemos diversos talentos se perdendo pelo caminho, pessoas certas nas profissões erradas e capacidades que enferrujam pela falta de uso. Não tenho filhos, mas, aos leitores que os tenham, deixo o seguinte recado: prestem mais atenção nos interesses dos seus. Não transformem artistas brilhantes em médicos medíocres, não condenem à vida em um escritório aqueles que nasceram para profissões menos convencionais, mas, nem por isso, menos rentáveis ou gratificantes.