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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O destino do pato que pensava que era cisne

Era uma vez um pato que pensava que era cisne. Tratava-se de um pato da espécie mais comum, mais feio que o patinho feio da fábula, mas, por razões desconhecidas, imaginava-se uma ave muito mais nobre do que realmente era. Alguns, incomodados com aquele equívoco que só causava transtornos, levantavam hipóteses psicanalíticas sobre o que o teria levado a agir assim. Uns pensavam que, na infância, o pato havia sido criado pela avó, ou então mimado demais pela mãe, e que uma delas, ou ambas, tivesse incutido-lhe na cabeça a ideia de ser maior e melhor que os outros. Mas essa hipótese só era defendida pelos bonzinhos desavisados; observadores vacinados tinham outra, bem mais dolorosa, porém realista e com enormes fundamentos: o pato era filho de chocadeira elétrica!

Entre traumas e paixões que justificavam tal hipótese o pato cresceu e, assim como o da fábula, resolveu ir buscar seu lugar em outro lago. Não adiantaram os milhares de avisos recebidos no lago antigo, onde seus companheiros, já habituados ao seu autoritarismo e à sua mania de se impor a qualquer custo, tentaram lhe convencer a não ir embora, pois não seria em todos os lagos que ele encontraria quem abaixasse a cabeça fingindo concordar cada vez que o ouvissem dizer: “Mas é claro que estou certo! Eu sou um cisne e os outros não passam de patos comuns”.

E lá foi o pato, pata aqui, pata acolá, mudou de lago para ver o que havia e até que se deu bem. O único problema foi que, lá, ao contrário de acostumados sinceros, ele encontrou vacinados que agiam por conveniência, ou seja, ouviam-no dizer que era um cisne, balançavam a cabeça fingindo concordar e, às suas costas, riam-se ou queixavam-se das suas artimanhas para convencer o mundo de que era um cisne. Sim, porque o pato, que pensava não ser pateta, aprontou todas quando mudou de lago, simplesmente pintou o caneco! Surrou a galinha, bateu no marreco, difamou a maritaca, humilhou o periquito, enfim, pensou que estava no seu lago, deitou e rolou!

Pensando que era cisne, o pato quis se aproximar dos mamíferos de grande porte. Exibiu, com grande capacidade de convencimento, sua eloquência de ave pomposa, e foi conquistando seu espaço. Intimidava as aves menores e esquecia-se de que elas, por pesarem menos, tinham maior capacidade de voar e de se fazer ouvir diretamente pelos mamíferos de grande porte.

Porém, nada disso foi necessário. Cedo, ou melhor, em tempo hábil, as aves menores descobriram que de nada adiantaria organizar uma revolta contra o pato que pensava que era cisne. Seria um dispêndio desnecessário de energia que poderia não dar em nada. Logo compreenderam que um pato como aquele teria, mais cedo ou mais tarde, a devida resposta para suas ações aparentemente impensadas.

E, mais uma vez, lá foi o pato, pata aqui, pata acolá, para o meio dos mamíferos de grande porte para ver o que havia. Aquilo o fez imaginar-se ainda mais importante e logo, logo, começou a arrumar confusão com os mamíferos de grande porte, alguns já macacos velhos e sem a menor paciência para “pitís” de patos que pensavam que eram cisnes. Engoliram um, dois, três dos seus ataques de autoritarismo, até o dia em que ele, confiando na impunidade que lhe era atribuída pela sua condição de cisne, caiu do poleiro no pé do cavalo. Dali em diante, nem passou pela fase de criar um galo, até porque o cavalo com o qual ele resolvera criar atrito era fino demais para dar coice em alguém.

Não se sabe quem foi incumbido da indigesta tarefa de digerir o pato que pensava que era cisne (aliás, se algum dos leitores souber se carne de cisne é boa, por favor, informe nos comentários). Tudo o que se sabe é que, tantas fez o moço, que foi para a panela...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Distorção de habilidades

Bom dia, queridos leitores!
O mês de setembro, que costuma ser curto, mas esse ano foi bem longo, chega ao fim. Eu, sempre correndo, não consegui postar muito nas últimas semanas, mas isso não significa que as ideias não tenham surgido.
Uma das melhores novidades dos últimos dias foi a notícia do lançamento de “O retorno do jovem príncipe”. Ainda não li o livro, escrito pelo argentino Alejandro Guillermo Roemmers, sobre como seria se o Pequeno Príncipe do clássico de Saint-Exupéry tivesse permanecido na Terra. Porém, como já fui cativada há muitos anos, acredito que isso será feito em breve.
Existem várias situações do livro “O Pequeno Príncipe” que sempre me voltam à mente. Quem não se lembra, logo no início do livro, quando o piloto/narrador/alter ego do autor fala sobre seus desenhos na infância, e mostra a inesquecível jiboia engolindo um elefante? Depois de muitos adultos só enxergarem um chapéu na ilustração, ele diz que foi assim que, aos seis anos, abandonou uma promissora carreira de pintor.
Saindo da ficção para a vida real, percebe-se que muita gente já viveu algo semelhante. Nós, adultos, presos a números e resultados, nos esquecemos de enxergar o que está além: as verdadeiras habilidades. São muitos os pais que empurram “de goela abaixo” as carreiras que seus filhos devem seguir, às vezes porque aquela área dá dinheiro, ou porque é a mesma que eles seguiram, ou porque é aquela que eles queriam ter seguido, mas não tiveram oportunidade. E assim encontramos um exército de profissionais frustrados e infelizes, filhos de papais e mamães contentes que exibem seus troféus em forma de diploma.
Às vezes, a carreira que escolhemos não dá o retorno que esperávamos no início, ou nos desencantamos com as opções que a área à qual nos dedicamos durante tanto tempo de nossas vidas oferece. Nessas horas, voltemos à infância, à adolescência, e lembremos: do que nós mais gostávamos?
Sei de vários exemplos que deram certo, como o do amigo que só pensava em videogame e computador e hoje tem essas duas ferramentas como instrumentos da sua profissão. Os adultos tolhem os interesses das crianças e adolescentes, enxergam aquilo como distração, dizem que atrapalha na escola e não fazem o caminho inverso, ou seja, o de estimular o uso daquilo em benefício do futuro profissional em formação. Será que os jovens que adoram festas não podem vir a serem grandes organizadores de eventos? Ou a jovem que adorava música, shows e videoclipes não poderia se tornar uma grande produtora cultural? Os que têm habilidades esportivas, ou musicais, ou cênicas, não podem fazer delas suas profissões?
Lembro-me de uma fase da minha vida, na virada da infância para a adolescência, em que eu fazia pinturas abstratas com tinta guache. Adultos enxergavam rabiscos, somente. Ninguém reparava a escolha das cores e o posicionamento delas no papel. Depois, lembro-me de fazer o mesmo no Paint (sim, o bom e velho acessório do Windows) e de alguém me dizer que eu devia ter problemas, pois me ocupava com “o nada”. Ouvindo isso, passei a salvar as imagens que eu fazia e a dar-lhes nomes nos arquivos, assim, elas deixavam de ser “o nada” e a tão necessária explicação era encontrada rapidamente. Hoje, vejo pessoas ganhando muito dinheiro vendendo quadros com formas difusas, traduzindo impressões de seus criadores, e pergunto se alguém chamou de “nada” o que eles faziam quando jovens ou se, ao contrário, alguém os encaminhou ao aprendizado formal para lapidar aquela habilidade.
E assim vemos diversos talentos se perdendo pelo caminho, pessoas certas nas profissões erradas e capacidades que enferrujam pela falta de uso. Não tenho filhos, mas, aos leitores que os tenham, deixo o seguinte recado: prestem mais atenção nos interesses dos seus. Não transformem artistas brilhantes em médicos medíocres, não condenem à vida em um escritório aqueles que nasceram para profissões menos convencionais, mas, nem por isso, menos rentáveis ou gratificantes.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Minhas redes não são sites de fofoca!


Bom dia a todos!
Estou pensando em escrever desde o primeiro dia do mês, mas tudo tem sido muito corrido. Porém, acho que apareço aqui no momento certo, nesse mês de setembro, pois preciso transmitir um recado: minhas redes não são sites de fofoca! Muito menos meu blog, no qual eu escrevo textos de opinião pessoal dos quais alguns leitores, às vezes, se apropriam como se fossem de autoajuda (o Word do Office 2010, já configurado pelo acordo ortográfico, acabou de me avisar que “autoajuda” não tem mais hífen).
Recentemente, uma pessoa próxima que não gosta de redes sociais veio me falar de coisas que escrevo nelas. Em uma das redes citadas, a menos que haja algum perfil fake cuja existência me seja desconhecida, a pessoa nem possui conta. Dessa forma, só posso concluir que ela sabe o que está escrito lá porque alguém lhe disse. E se alguém disse, é porque está interessado demais nos meus problemas e se esquecendo de cuidar dos próprios.
Hoje entendo perfeitamente quando meu amigo Alexandre se perguntava: por que tanto interesse na minha pessoa? Será que sou, assim, tão interessante, ao ponto de até quem não tem Facebook saber o que eu ando escrevendo por lá?
Não se trata, aqui, de uma reclamação sobre a rede em si, ou contra as pessoas com quem compartilho minhas informações. Se eu escrevo, lá, aqui, no Twitter ou onde quer que seja, é para ser lido mesmo. Se não fosse, eu não me daria o trabalho de escrever, certo? O que eu não aceito é ouvir de quem não usa nada disso questionamentos sobre o que eu posto ou deixo de postar.
Parecem aquelas pessoas que, nos ambientes de trabalho, ou de sala de aula, ficam prestando atenção aos movimentos dos outros, como se não tivessem mais o que fazer. Nada que umas 800 páginas acadêmicas para ler em uma semana e meia não resolvam... Existem também receitas mais antigas para essas pessoas se ocuparem melhor: plantar batata, catar coquinho de morro abaixo, tomar chá de semancol (acabo de descobrir que o Word conhece esse “medicamento”!)...
O que eu sei é que tem gente usando minhas redes para me vigiar, e isso é péssimo! Vão seguir artista, curtir página de revista de celebridade, ler blog de famoso! Esses, com certeza, são interessantes, bonitos, glamourosos (se têm conteúdo, não me cabe julgar) e certamente muito mais dignos da sua atenção, uma vez que trabalham para entreter e, já que vocês não têm mesmo o que fazer, talvez um pouco de diversão seja útil.

domingo, 28 de agosto de 2011

Quando somos inspirados

            Boa tarde a todos!
            Durante a semana que passou, vivi momentos interessantes, que me trouxeram de volta uma sensação que há algum tempo me faltava. Diante de tantas dificuldades, acabamos ficando vulneráveis à ideia de que somos apenas ocupantes do espaço, sem maiores papeis na vida, no mundo. Esquecemos de todas as coisas maravilhosas que já fizemos e das que ainda podemos fazer, esquecemos do nosso verdadeiro propósito e do potencial que carregamos e que nos permitirá, no momento certo, conquistar aquilo que desejamos.
          A vida nos afasta das pessoas que em tantos momentos iluminaram nossos caminhos, que foram as luzes que nos guiaram quando em volta só havia escuridão. Nos afastamos devido às circunstâncias e pensamos que essas pessoas nos esqueceram, até que, de repente, as encontramos e descobrimos que nada mudou, no fundo. Nessas horas, lembro-me da belíssima canção “You’re still you”, cantada por Josh Groban, que diz: “o tempo muda tudo, uma verdade sempre permanece a mesma: você ainda é você; depois de tudo, você ainda é você”.
          Quando realizamos atividades que sempre nos inspiraram, mas que haviam sido deixadas de lado por falta de tempo, parece que nos reencontramos com a nossa verdadeira identidade. Há menos de uma semana, eu sofria por antecipação; agora, acredito que, mesmo que com dificuldades, tudo, aos poucos, vai dar certo.
          De gente para nos empurrar para baixo, para encher nossas cabeças com suas ideias de pessoas frustradas, o mundo está cheio! Por isso, temos que conservar aqueles contatos agregadores, aqueles que nos inspiram. Nunca devemos deixar de fazer aquilo que nos deixa bem conosco mesmos. Pode ser que não tenhamos mais tempo para fazê-lo com a mesma frequência de antes, mas somos capazes de dar nosso jeito, sempre. Estamos aqui para solucionar, infelizes é que preferem se afundar nos problemas.
         Quando somos inspirados, nos damos conta de que, mesmo que apenas nas lembranças, sempre temos de onde tirar forças para seguir em frente. E quando descobrimos isso, podemos tudo!

domingo, 14 de agosto de 2011

Aos 23, pela última vez

Boa tarde, queridos leitores. Era para esse post ter saído ontem, mas, devido à mesma correria de sempre, aí vai o último texto que escrevi aos 23 anos:

Hoje é dia 13 de agosto de 2011. Hoje, pela última vez na vida, eu tenho 23 anos. Daqui a algumas horas estarei formalmente mais velha (digo formalmente porque envelhecemos a cada dia, mas só nos lembramos disso quando a data é marcada no calendário) e, portanto, tudo que eu não fiz entre o dia 14 de agosto de 2010 e hoje, nunca mais farei com essa idade. Poderei fazer na segunda-feira, dia 15 de agosto, mas já terei 24 anos então.
O ano que se passou desde o meu último aniversário foi de grandes reflexões e descobertas. Lembro-me que, há um ano, eu estava preocupada com o que faria da minha vida, já que havia terminado um estágio que não foi seguido de contratação, estava a quatro dias da minha colação de grau e me encontrava sem trabalho. Os três meses que eu passei desempregada em 2010 me fizeram lembrar de algo que aprendi lá no início da faculdade, quando eu ainda nem havia completado 18 anos: todos temos várias habilidades e, quando aquelas que desenvolvemos nos nossos cursos não dão o devido retorno, devemos, sim, usar as outras.
Essa dificuldade passou, consegui emprego num ambiente do qual gosto, com um grupo do qual eu me sinto parte e, agora, entendo que valeu a pena esperar. São muitos os projetos para o futuro, as idéias que circulam na mente, mas hoje me sinto bem mais segura para colocar isso, aos poucos, em prática.
Porém, o maior saldo desses últimos doze meses, para mim, foi a retomada de parte do que deixei para trás em nome de um sonho que virou pesadelo. Entre pessoas, atividades e hobbies, o que tenho a dizer é que, um ano depois, já voltei a ser parte do que eu era.
Ah, e também tem esse blog, minha feliz realização de 2011, por onde vocês passam e compartilham um pouquinho das minhas ideias e impressões. Por isso, agradeço imensamente a vocês, queridos leitores, pelo carinho e apoio a esse projeto que eu toco a passos lentos, mas constantes. Muito obrigada, é tudo o que eu posso dizer hoje, aos 23, pela última vez.
No próximo post, cujo assunto ainda não está na minha cabeça, já terei 24.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Coração de vidro" revisitado

Coração de vidro é um livro escrito por José Mauro de Vasconcelos que marcou minha vida. Na infância, fui presenteada com ele por minha mãe, que exigia que eu lesse cada uma das suas quatro pequenas histórias em voz alta, durante quatro dias. Ela não se importava muito se eu entenderia o que cada uma daquelas narrativas significava, mas queria que eu adquirisse mais vocabulário e, por isso, me fazia ler essas coisas “de adulto”.
Cresci e, já no início da adolescência, passei a olhar o livro com outros olhos. As histórias do pássaro azulão (A missa do sol), do peixinho Clóvis (O aquário), do cavalo de corrida (O cavalo de ouro) e da mangueira que acaba reduzida da um resto de tronco (A árvore) me emocionavam muito, achava triste ver como a natureza era desprezada pelos seres humanos na fazenda em decadência que servia como cenário.
Existem livros que devem ser retomados de vez em quando. Cada um tem os seus preferidos e, entre os meus, está Coração de vidro. Livros revisitados sempre trazem percepções diferentes a cada vez em que os lemos. Recentemente, ao reler o pequeno livro de José Mauro de Vasconcelos, percebi que, mais do que mostrar a relação dos seres humanos com a natureza (relação que é, muitas vezes, de total desrespeito), cada uma daquelas historinhas que apresentam animais e plantas como protagonistas possui um forte elemento alegórico. Assim, notei que todos nós podemos ser parecidos com cada um daqueles seres tão bem descritos na obra.
A primeira das histórias, A missa do sol, em especial, me trouxe uma reflexão muito forte, que eu preciso compartilhar. Trata-se da vida de um lindo azulão que, entediado com a vida tranqüila junto a seu bando na floresta, resolve se aventurar nuns fios elétricos recém-descobertos na região e acaba preso em um alçapão. É levado para a cidade, conhece outro pássaro engaiolado, descobre o que são o exílio e a fuga e, angustiado por estar longe da vida que deixou na floresta, desiste de viver: não come, não bebe, não canta, até que, um dia, seu dono o pega com as mãos abertas e ele tem a oportunidade de fugir. Seu companheiro de gaiola canta para que ele fuja, mas, por ter deixado de se alimentar, o pássaro está fraco demais para levantar as asas.
Assim somos nós, que muitas vezes estamos presos em situações angustiantes, mas que, nem por isso, devemos nos deixar enfraquecer, pois nunca sabemos quando chegará a oportunidade de batermos nossas asas e levantarmos vôo rumo à liberdade que tanto desejamos. E, às vezes, essa oportunidade está bem ao nosso alcance e, por estarmos frágeis demais, a deixamos passar.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desusos

     Bom dia, queridos leitores!
    Depois de meses de baixa produtividade, mesmo que eu não escreva mais até o dia 31, julho vai acabar com mais posts do que abril, maio e junho. Isso é ótimo, pois significa que estou inspirada.
    Esses dias me peguei pensando em um texto, em verso, atribuído a Luís Fernando Veríssimo, “Tudo mudou”, que fala da substituição de objetos e nomes de coisas com o passar do tempo. Desconfio que a autoria não seja dele, até porque não seria o primeiro texto com o qual isso acontece, mas o poema chama a atenção para mudanças que ocorrem de forma tão natural que só nos damos conta tempos depois.
    Lembrei desse texto porque, esta semana, passei perto de uma locadora de vídeo e vi um grande número de exemplares em VHS. Sim, isso mesmo, VHS! As próprias locadoras já são algo meio em desuso, lutando para sobreviver diante da concorrência dos DVDs baratos das Lojas Americanas e dos camelôs quem vendem, às vezes, “3 por 10”. As que sobrevivem, em sua maioria, só trabalham com DVDs (que, aliás, também tendem a desaparecer em breve com a tecnologia do Blue-Ray se popularizando).
Sou do tempo em que vídeo cassete era luxo e que locadoras eram um bom negócio. Existia uma, perto do colégio onde eu estudava, que era enorme, tinha ar condicionado central, vendia outros produtos (doces, refrigerantes, filmes fotográficos, etc.) e tinha um excelente acervo. Lá, onde trabalhavam meus queridos Deborah e Dario, houve a tentativa de adquirir DVDs para o acervo e fazer a devida adaptação à nova tecnologia. Contudo, poucos anos depois, quando muitos dos confortos que existiam no início já haviam sido cortados (o tal ar condicionado e as portas de vidro), a loja veio a falir, como tantas outras, maiores ou menores.
    Hoje em dia os aparelhos de DVD são baratos e ainda existe a facilidade de assistir na tela do computador, que já vem de fábrica equipado com leitor para esse tipo de mídia. Fitas VHS não fazem a menor falta, uma vez que não é necessário rebobinar DVDs...
    Outra observação de algo que caiu em desuso que me ocorreu recentemente refere-se a algo que me aterrorizou por um bom tempo. Que a ortodontia faz uso de métodos de tortura que datam da Idade Média, todo mundo que usa ou já usou aparelho sabe. Para o nosso sorriso ficar bonito, somos submetidos a dores inimagináveis! Agora, quando eu era mais nova, morria de medo de ter que usar aquele modelo externo, que era preso na nuca e tinha o carinhoso apelido de “freio de burro”.
    Felizmente, o progresso também chega para a área clínica (espero que meus netos possam usar aparelho sem viverem com a boca machucada e sentindo dor na testa, no nariz, na nuca...) e, até onde sei, os “freios”, se não foram aposentados de vez, andam restritos a casos bem especiais, ao ponto de quase não se ver mais ninguém que os utilize. Eu, pelo menos, não vejo há muitos anos (graças a Deus!).
   Esses dois exemplos são apenas os que vieram à minha cabeça recentemente, mas existem outros que comprovam que, assim como acontece quando eu vejo as fotos entre os amigos de colégio e comparo nossas caras ontem e hoje, também acontece com as coisas que facilitam nossa vida: ainda bem que elas só mudam para melhor.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Jogue-se!


Se você estiver feliz, jogue-se na pista de dança, nos risos espontâneos na contemplação do que existe de melhor à sua volta. Gaste sua energia ao som da música, sinta dor na barriga de tanto rir, encha os olhos de lágrimas com a paisagem, ou com a obra à sua frente. Pode parecer loucura, mas somente assim você conseguirá ficar ainda mais feliz.
Se você estiver triste, jogue-se nos braços de seus amigos de verdade, aqueles que o conhecem sem máscaras e que sempre sabem e compreendem quando você precisa usá-las. Dispa-se dos rótulos e chore o quanto tiver que chorar. Isso não significa que você deve prender a pessoa aos seus problemas, mas, se vocês são amigos, sempre haverá espaço para que o outro lhe ofereça pelo menos um pouco de apoio. Quando se tem apoio, nem que ele surja com aquela pessoa que simplesmente fica quieta, deixa você chorar e, se você quiser falar, ouve seus desabafos, fica bem mais fácil se livrar de parte do peso que as dores nos impõem.
Se você estiver amando, jogue-se nos braços da pessoa que o seu coração escolheu. Não ligue para padrões impostos, tabus inventados, ideias pré-fabricadas. O que os outros vão achar é problema deles e, desde que ninguém seja agredido com a sua relação, ela só interessa a você e à pessoa com quem você está. Viva intensamente seus sentimentos, pois eles são a única coisa, além das suas habilidades, que você possui verdadeiramente.
Se você tem um objetivo, jogue-se nos meios para conquistá-lo. Estude, invista seu tempo e seus recursos, corra atrás, busque os melhores contatos. Também não se martirize por não ter conseguido algo, transfira imediatamente seu objetivo e faça, novamente, todo o caminho, passo a passo. Você está aqui para conquistar tudo o que quiser, e se você busca essa conquista por meios justos, nada o impede de chegar lá.
E se você está de mal com a vida, não consegue ser feliz mesmo com tudo o que já conquistou (e que você sabe que não é pouca coisa), está preso a situações horrorosas que não consegue abandonar alegando uma suposta necessidade, simplesmente jogue-se. Sim, você que não consegue admitir para você mesmo que as conquistas dos outros lhe incomodam, que a evolução dos outros diminui a sua; que não enxerga que a liberdade está bem ao alcance das suas mãos, que você tem ferramentas para solucionar os problemas que lhe destroem dia após dia: jogue-se! Encontre um prédio bem alto, suba até o último andar e jogue-se lá de cima.
Pode ser que, no alto do prédio (ou da torre, da ponte, do que for), você olhe para baixo e repense seus conceitos, veja que a vida vale muito a pena para se perder tempo anulando o próprio desenvolvimento por pura inveja dos outros. Você pode pensar que tem muito a fazer por você mesmo e essa não é, definitivamente, uma ideia egoísta, porque, você há de concordar que o que não serve para você, também não serve para os outros; logo, se você não consegue ser feliz com o que tem em suas mãos, como pode querer melhorar a vida dos que estão à sua volta?
Mas pode ser, também, que nada disso ocorra, que você, lá em cima, continue achando que sua vida é ruim “porque Deus lhe deu essa missão” e que ela não vai melhorar nunca. Então, jogue-se. O mundo já está cheio de gente que só serve para atrapalhar a si mesmo e aos outros, uma pessoa assim a menos só vai desocupar um pouco o espaço.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Imagem e animação


Bom dia a todos!
No primeiro dia de julho, venho até aqui para escrever mais um post e lembrar que o blog não está abandonado, o que tem faltado é tempo para atualizá-lo.
Durante a semana que passou, uma discussão sobre cinema iniciada no mural da Fernanda, minha mais fiel leitora, no Facebook, me trouxe a idéia para esse post.
Tudo começou com a notícia de que Haley Joel Osment (“I see dead people. I see them all the time. They’re everywhere” – eu sei que vcs lembram!), depois de tantos anos lembrado apenas como “o garoto que fez “O sexto sentido”, vai fazer o papel de Frankenstein. Depois dos primeiros comentários ironizando a aparência do jovem ator, a discussão evoluiu para outros temas cinematográficos e logo chegou àquele gênero que todo mundo adora, embora nem sempre tenha coragem de admitir: animação.
As pessoas que participavam da discussão têm a mesma faixa etária, logo, fazem parte da turma que assistiu “O Rei Leão” no cinema e chorou quando o pai do Simba morreu. “O Rei Leão” foi, sim, um grande sucesso, e é um grande filme. Contudo, não é o meu preferido entre os clássicos Disney da década de 90.
Entre produções belíssimas como “A Pequena Sereia”, “Aladdin”, “Pocahontas”, “Mulan” (esse ainda deve render outro post, mas esperem o momento certo), “101 Dálmatas”, “Tarzan” e outros, meu preferido é “A Bela e a Fera”. E, o que é mais interessante, só percebi isso depois de adulta.
O que mais me encanta nessa produção, além, é claro, da profundidade de sentimentos representados na tela (comum aos outros clássicos), das belíssimas canções e das imagens encantadoras, é a composição da personagem Bela.
No início do filme, quando ela ainda está na sua pequena cidade, chama a atenção das pessoas por ser inteligente, estudiosa, interessada em leitura e viagens. A maioria a vê com maus olhos, visto que esse é um comportamento transgressor para o lugar, onde as moças devem aprender a cozinhar, costurar e ser boas para conseguirem bons maridos, ter muitos filhinhos bonzinhos e levarem suas vidas pacatas de mulheres interioranas. Apontam-na como esquisita, chamam seu pai de maluco, e a única pessoa que a compreende é o livreiro, que dá asas às suas ideias. Quando sua canção-tema é apresentada, entremeada com as falas dos personagens da pequena cidade, há dois trechos que são bem ilustrativos. Um deles diz:

“Esta garota é muito esquisita
o que será que há com ela?
Sonhadora criatura
tem mania de leitura...
É um enigma para nós
a nossa Bela...”

Em outro, cantam assim:

“O nome dela quer dizer beleza
não há melhor nome para ela.
Mas por trás desta fachada
ela é muito fechada
Ela é metida a inteligente...
Não se parece com a gente...
Se há uma moça diferente é Bela!”



Eu também já vivi em cidade pequena e sei bem como é isso, e mesmo em lugares maiores, pessoas que se dedicam regularmente ao conhecimento e à cultura não são muito bem vistas, sobretudo no país onde eu vivo.
Por isso, sempre que tenho a oportunidade de assistir “A Bela e a Fera”, largo tudo e assisto. Na tela, mais do que uma simples animação, consigo enxergar um pouco da minha imagem.

P.S. Fiquei tão animada com esse post que devo escrever mais sobre animações em breve. Dedico esse de hj aos amigos da Fernanda, que tanto me divertem no Facebook, e a todos aqueles que amam os clássicos da Disney e ainda choram quando vêem a morte do pai do Simba, ou a da mãe do Bambi.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma casa muito engraçada

Vinícius de Moraes surgiu na minha vida, que eu me lembre, com os versos de O Pato, poema que, transformado em canção, foi uma das primeiras que aprendi a cantar.
A Casa, outra obra-prima do Poetinha para crianças, também fez parte da minha infância. Contudo, foi em outro momento da minha vida que seus versos e sua melodia deixaram sua marca.
Quando meu irmão, nove anos mais novo que eu, era bem pequenino, eu gostava de cantar para ele dormir, e um dia percebi que A Casa era uma das canções que o deixava mais calmo. Dessa forma, todos os dias eu parava ao lado do seu berço e cantava, com diferentes ritmos e entonações, e ele adorava.
Cresci e fui descobrindo mais da obra do maravilhoso poeta. Mas, dizem que as únicas ideias e impressões que carregamos para a vida inteira são aquelas adquiridas na infância. Sendo assim, é normal que eu me pegue, repentinamente, lembrando-me dos poemas musicados que até hoje encantam crianças e adultos.
A Casa é, talvez, a mais lembrada por todos. Recentemente, alguém na minha turma de russo até fez uma paródia com sua letra. Estudávamos em uma sala de condições estruturais precárias, no fim do corredor ímpar do último andar do Bloco H, na Faculdade de Letras da UFRJ (sugiro que Camila leia esse post, ela conhece bem o local citado). A sala estava sem o revestimento do teto, sem o vidro da porta e sem maçaneta (a falta do vidro nos obrigava a suportar a turma de inglês de uma das salas vizinhas ouvindo repetidas vezes a canção Knockin’ on heaven’s door interpretada por Avril Lavigne). Além disso, estava com várias cadeiras (que deveriam ser fixas) faltando, vidros faltando na janela, enfim, faltava tudo! Foi então que um dos colegas resolveu mostrar seu lado criativo e cantou:

Era uma sala
Tão desgraçada
Não tinha teto
Não tinha nada

Mais uma vez, então, a canção voltou à minha mente e eu fiquei com vontade de ouvi-la. Gosto das animações que fazem no Youtube e fui assistir a uma delas. Enquanto ouvia a gravação do grupo Boca Livre, lia os comentários do público.
Quem lê notícias e assiste a vídeos pela internet sabe que é possível esquecer todas as amarguras da vida ao ler comentários, devido às inimagináveis doses de bizarrice que eles podem conter, capazes de nos deixar rindo até muito tempo depois. Nos comentários para o vídeo da tal “casa muito engraçada” não é diferente, tanto que me senti na obrigação de compartilhar com vocês um dos melhores momentos da minha semana, que mal começou, mas que já sei que foi com o pé direito.
Bem, para começar, algum maníaco-conspiracionista (esse termo existe, Camila?) disse que o poema (que virou letra) fala sobre as casas populares construídas durante o regime militar. Logo, A Casa não é uma linda canção infantil, mas sim uma forte crítica à ditadura. Tudo bem, músicas infantis são compostas por adultos e sempre carregam mensagens que vão além de jogos de palavras engraçadinhos; além disso, há que se admitir que a produção cultural da época é marcada pelo engajamento político, mas, de verdade, acho que essa idéia não tem nada a ver.
Depois, outra usuária, talvez pensando que sua veia poética estivesse mais aflorada que a do próprio Poetinha, relata a brilhante interpretação de sua filha para a letra, feita quando a jovem possuía, então, sete anos: a casa é o útero da mãe, que não tem teto, nem parede, nem chão, nem lugar para fazer pipi; a rua dos bobos é a referência ao excesso de zelo e de mimos que as pessoas dedicam às grávidas; e o número zero, tão redondinho na sua insignificância, é a forma da barriga da mãe! Brilhante!
Confesso que até achei interessante a interpretação da criança, embora não interprete os versos da mesma forma. O problema é que depois começaram a surgir comentários de um bando de desavisados afirmando que era isso mesmo, que esse era o verdadeiro significado da letra.
A linguagem poética permite diversas leituras e interpretações, nas quais o leitor pode imaginar o que quiser. A pedra no meio do caminho de Drummond, que para os outros carregava milhares de significados filosóficos, para ele era apenas uma pedra entre as muitas da região de Itabira, MG. As viagens nos comentários sobre A Casa, dessa forma, nem me surpreenderam tanto.
Houve quem afirmasse que Vinícius escreveu o poema em homenagem à casa do artista plástico uruguaio Carlos Villaró, até disseram que os últimos versos, inicialmente, seriam assim:

Mas era feita de pororó
Era a casa do Villaró

Ainda vou pesquisar mais sobre isso, afinal, essa “casa do Villaró” devia ser mesmo muito interessante...
Porém, a melhor de todas as interpretações contidas nos comentários, aquela que, apesar de desconsiderar, creio que intencionalmente, a distância temporal entre a produção dos versos e o momento atual, diz o seguinte:

“Casa sem teto, sem chão, sem parede, sem penico? Na Rua dos Bobos, número zero? Deve ser propaganda do ‘Minha Casa, Minha Vida’!”

Apesar de a constatação ser terrivelmente grave, o que fica é que, independentemente da interpretação que se dê, a casa que o Poetinha idealizou (ou reproduziu em verso ao ver a do amigo) continua a ser, para qualquer geração, muito, mas muito engraçada!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O armário da suposta fé

Bom dia a todos!
Junho começa e eu, logo no primeiro dia, já tive inspiração para escrever esse post. Não pretendo, com ele, criar nenhuma polêmica, embora o assunto seja um tanto espinhoso.
Existem pessoas incapazes de admitir para si mesmas o que sentem, sobretudo quando se tratam de sentimentos ditos “ruins”. Normalmente, isso acontece porque, ao longo da vida, elas se deixaram guiar por chamados princípios religiosos aos quais, conscientemente, dizem obedecer. Querem mostrar para todos que são boas pessoas, trabalhadores exemplares, pais e mães de família, bons filhos, bons pagadores e acham que isso basta, que com isso seu lugar no céu está garantido. Acreditam que, se possuírem maus sentimentos, serão castigados por Deus ou por qualquer outra força maior em que acreditem e, obviamente, temem esse castigo.
Acontece que ninguém é perfeito. Tenha a pessoa recebido formação religiosa ou não, independentemente de se comportar como aquilo a que socialmente convém chamar de uma “pessoa de bem”, os chamados maus sentimentos existem e estão dentro de todos nós.  
O que se vê, então, são pessoas infelizes, frustradas, quase se matando de inveja de quem nem  tem tanto mais assim do que elas. Começam a fazer pré-julgamentos, juízos de valor. Dizem que o outro é metido, esnobe, arrogante; posam de simples e humildes, mas, na verdade, adorariam estar no lugar do outro.
Essas pessoas são dignas de pena, pois o tempo que perdem lançando maus olhares sobre as conquistas e, por vezes, as habilidades alheias, seria muito melhor aproveitado se fosse dedicado à contemplação das próprias conquistas, aos esforços para aumentar as mesmas e ao aprimoramento das próprias habilidades. Contudo, elas são incapazes de perceber isso porque, como são “pessoas de bem”, enganam-se dizendo que não possuem inveja.
Com isso, em nome de ideias que lhes foram transmitidas como dogmas, escritas sabe-se lá quando, por sabe-se lá quem, as pessoas não admitem para si mesmas que aquilo que lhes incomoda nos outros é o que elas queriam ter para elas. Recorrem aos seres superiores em que acreditam para destruir a felicidade dos outros e acham que fazem isso em nome de um bem maior, o delas, é claro. Esquecem-se que o telhado de suas casas é feito do mesmo vidro que o dos outros, e que a pedra que lançam para punir os “errados” um dia pode ser jogada com melhor pontaria, quebrar o telhado num ponto qualquer e atingir de forma certeira e mortal a cabeça de um “certinho” qualquer dentro do seu suposto lar bem construído de pessoa honesta (mas, certamente, menos confortável que o do outro).
Seria muito melhor se essas pessoas admitissem para si mesmas o que as incomoda. Não gostar de algo ou alguém é normal e, desde que a boa convivência seja priorizada, não há mal nenhum nisso. Agora, colocar nos outros a culpa pelas suas frustrações e, pior ainda, não admitir isso, é, sim, muito grave. Por que não sair do armário da suposta fé que lhes ensinaram a professar e, em caso de desejar ter o que o outro tem, arregaçar as mangas para conseguir pelos próprios méritos, em vez de desejar e conspirar para que o outro perca aquilo que, com certeza, não veio para ele de graça?

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Alguém me disse


Boa tarde a todos!
Até que o espaço entre a última postagem e essa de hoje não foi tão grande. Acredito que, com um pouco de inspiração, consigo fechar maio com mais posts do que abril.
Todos devem estar acompanhando o escândalo que envolve Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-gerente do FMI e que, até então, era o principal opositor de Nicolas Sarkozy para as eleições presidenciais de 2012 na França. Uns dizem que Sarkozy tem muita sorte; outros, que a outra alternativa pode ser pior: a saber, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen.
Enquanto isso, especula-se sobre a já quase comprovada gravidez da primeira-dama francesa Carla Bruni. Há quem brinque e diga que o bebê será feliz se herdar a beleza da mãe e a sorte do pai. Outros fazem piada política mais grave, dizem que Sarkozy se reproduzindo é um perigo para a humanidade. Leio, ouço e acho graça desses comentários, e faço o meu, que alguém já deve ter visto no Facebook: vamos lembrar que, apesar de ser metade Nicolas Sarkozy, esse bebê também é metade Carla Bruni.
Nem preciso, depois dessa observação, dizer que sou grande admiradora da modelo que virou cantora, que depois virou primeira-dama e, mesmo quando seu marido sair do cargo, jamais deve perder seu brilho.
Em 2007, quando eu estudava francês, uma professora levou para a aula a canção “Quelqu’un m’a dit” (Alguém me disse), interpretada por Carla Bruni. Um colega mais velho que o resto da turma contou, na ocasião, a história dela, uma italiana que havia começado a carreira como modelo e depois seguiu como cantora, muito boa, por sinal. Logo fui procurar outras músicas gravadas por ela e gostei muito de todas.
Contudo, foi só depois que ela se tornou primeira-dama que fui saber mais sobre sua trajetória. Fofocas sobre artistas não são um assunto que desperte muito meu interesse, mas, quando só se fala em uma determinada figura, é óbvio que algumas informações entram por osmose. E foi assim que eu me vi inspirada aquela mulher linda, mas com conteúdo; mulher intensa, que fez o que quis com a própria vida, ganhou o ódio de muitos (e muitas) e a admiração de tantos outros; que passou anos sendo enganada na própria família e conseguiu se adaptar bem à verdade. Carla Bruni me inspira porque, apesar de todo o glamour que sempre a cercou, transmite a imagem de ser de carne e osso, não um ser num pedestal inatingível.
Alguém me disse, recentemente, que eu deveria me inspirar nas princesas de verdade (creio que a observação surgiu a partir do recente casamento real inglês). Por que deveria, quando existe Carla Bruni no mundo?
E quando dizem que nossas vidas não valem grande coisa, que passam num instante, assim como murcham as rosas (On me dit que nos vies ne valent pas grand chose/Elles passent en un instant comme fanent les roses), posso dizer que valem, sim, e muito! Estamos aqui para lutar e conquistar tudo o que desejamos, viver nossos desejos com a intensidade que lhes for devida, e não para acreditar que somos insignificantes, que nossas condições nos oprimem ou que os outros irão nos julgar mal, como tantas vezes alguém me disse.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Não dá para ser feliz sem saber


Boa tarde a todos!
Andei tão sumida, mas tão sumida, que essa é minha primeira postagem em maio, isso porque o mês está acabando. Entre trabalho, pós e outras atividades tem me sobrado bem pouco tempo, mas, acreditem, em nenhum momento pensei em abandoná-los.
Há pouco tempo um feliz reencontro me trouxe a ideia para esse post. Durante um seminário na universidade onde curso minha especialização, encontrei vários antigos colegas daquela onde me graduei. Como sempre acontece nessas ocasiões, conversamos sobre as atuais atividades e sobre os velhos tempos, marcamos novos encontros e trocamos novos telefones e e-mails.
Reencontrar pessoas que fizeram parte de momentos felizes das nossas vidas é sempre muito bom. As conversas se iniciam no hoje e, rapidamente, desviam-se para as lembranças do que ficou para trás. Em meio ao saudosismo, sempre existe alguém que suspira e diz: “A gente era feliz e não sabia!”. Mas como é possível ser feliz e não saber?
Não consigo conceber tal ideia. Talvez o problema seja só meu, mas não me vejo como desconhecedora dos momentos de felicidade. Ao contrário: quando encontrei os tais colegas da minha antiga universidade, onde até hoje participo de um grupo de pesquisa, lembrei de um tempo que ainda está recente, no qual eu me sentia a pessoa mais realizada desse mundo em meio a um processo de amadurecimento acadêmico e profissional. As pessoas me encontravam na rua e diziam que era visível que eu estava feliz, e isso era verdade e eu sabia.
Até entendo a ausência dessa sensação em mim quando o encontro é entre colegas de colégio. Não posso dizer que no colégio eu era feliz e não sabia porque, na verdade, eu não era feliz. É claro que tive muitos bons momentos, mas somente na universidade me encontrei completamente.
Em outros meios, fora dos escolares, também sempre soube reconhecer os momentos de felicidade e os de falta dela.
Por isso, sinto que é importante reencontrar quem marcou nossos momentos felizes, para lembrar que, mesmo que existam dificuldades hoje, um dia elas serão superadas, como o foram lá atrás. É bom lembrar daqueles momentos em que nos achávamos sozinhos e a pessoa que menos imaginávamos nos estendeu a mão, às vezes sem saber que era exatamente daquilo que estávamos precisando; ou de quando pequenas frases mudavam nosso dia. Todo mundo tem alguma lembrança assim, todo mundo deve se lembrar de quando se sentiu importante para algo ou alguém e, por isso, era feliz.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Quando o uniforme ficou para trás


Boa tarde a todos!
Hoje estou meio nostálgica. Senti saudade de ouvir Spice Girls e, se não estivesse agora no trabalho, certamente estaria ouvindo, cantando e dançando seus sucessos, talvez até lembrando as coreografias.
Em meio a essa lembrança musical, outra, mais cotidiana, me surgiu há pouco. De vez em quando essa ocasião me volta à memória e creio que, por ser tão recorrente, é digna de registro.
Nunca gostei de uniformes escolares. Nem mesmo na infância me sentia feliz dentro de um. A escola na qual passei meus últimos cinco anos de vida escolar nem tinha um uniforme tão feio: era calça ou bermuda jeans com a blusa do colégio, durante quatro anos azul e, no último, cinza. Mas, não tinha jeito: eu não gostava de uniforme.
Tive um professor e diretor, também na última escola em que estudei, que dizia que o uniforme identifica os estudantes, faz com que se saiba, em qualquer lugar onde se encontrem, que estão na condição de alunos. Sei que ele estava certo, sei que um uniforme escolar ou profissional é um elemento de identificação, mas, mesmo já sabendo disso àquela época (em 2001), meu sonho era chegar ao terceiro ano do Ensino Médio, pois a rede à qual minha escola pertencia liberava os alunos dessa série para usarem suas próprias roupas.
E assim fui, feliz da vida, no fim de 2003, doar minhas antigas blusas de uniforme, afinal, no ano seguinte elas já não seriam mais necessárias, certo? Infelizmente, não. Em 2004, justamente quando eu cheguei à série na qual não havia a obrigatoriedade do uso do uniforme até o ano anterior, tal obrigatoriedade passou a existir (sim, Murphy tem uma atração irresistível pela minha pessoa).
É claro que, na adolescência, as garotas não ficavam todas iguais quando usavam o uniforme. A escola era liberal e nós usávamos acessórios para dar um pouco mais de “vida” àquele azul monocromático e, depois, ao cinza tão neutro.
Como era ano de vestibular, 2004 passou como um sopro. Quando menos se esperou, era chegado o momento de choradeira na sala dos professores, choradeira nas últimas aulas do professores mais queridos, rememorações de episódios felizes entre os colegas que tinham virado amigos... Tínhamos prova, quinta prova se necessário, etapas do vestibular ainda por fazer, mas, na verdade, o fim do último ano no colégio, quando chegou, mexeu com todo mundo.
As aulas acabaram, todo mundo passou na quinta prova, a festa de formatura foi maravilhosa (com destaque para o discurso emocionado da oradora da minha unidade, loura e muito magra à época, na filmagem parecia só ter dentes!) e as provas do vestibular também foram se aproximando do fim, acabando definitivamente em janeiro de 2005.
Em fevereiro de 2005, meu resultado: aprovada em História na UFRJ, para começar a estudar no segundo semestre. Com isso, em março voltei para a casa da minha mãe, no ES, onde permaneci até o final de maio. Nessa viagem, então, longe das provas e cobranças do vestibular, já com a minha vaga na universidade garantida, pude respirar fundo e me dar conta da mudança que já havia se iniciado.
Cheguei à cidade de Cachoeiro de Itapemirim em um dia qualquer da semana, bem cedo. Fui da rodoviária para o Centro a pé, pois é próximo e eu gosto de contemplar cada pedacinho da cidade que me adotou e da região onde vivi minha infância. Às 6 da manhã parei para ver e ouvir os sinos da Catedral de São Pedro, minha eterna igreja, e depois fui em direção ao ponto de ônibus, de onde seguiria para a casa da minha avó materna.
Enquanto esperava o transporte, que demorou bastante, vi a cidade acordando: os primeiros comerciários chegando para arrumar as lojas antes de abri-las ao público, fluxo de carros aumentando na principal via do Centro, alunos a caminho da escola. Naquela região, com tantos colégios próximos, era grande o movimento de adolescentes que carregavam mochilas, pastas e se vestiam iguais aos outros de seus grupos, todos de uniforme.
Foi ali, naquele momento, que eu, que nunca gostei de uniformes escolares, me dei conta, quase quatro meses depois, de que eu nunca mais usaria um daqueles. Aquela fase, para mim, havia acabado.