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domingo, 20 de março de 2011

Onde o tempo parou

Boa noite!
Dias corridos numa cidade grande (que eu adoro) às vezes nos trazem a enorme vontade de nos refugiarmos por uns dias em algum lugar menor, mais tranquilo.
No Carnaval estive em Petrópolis, na região serrana. Lugar lindo, aconchegante, mas já dotado de muito progresso, com todos os confortos existentes nas cidades grandes.
Foi então que me lembrei de uma cidadezinha que visitei em 1998, terra natal de uma grande amiga da minha mãe. Trata-se de Dores do Rio Preto, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais. Lá, pode-se mudar de estado várias vezes por dia, basta atravessar uma pequena ponte.
O Espírito Santo, estado no qual passei minha infância e onde moram minha mãe e irmãos, é cheio de pequenas cidades. O núcleo urbano de Atílio Vivácqua, município no qual reside minha mãe (na zona rural) também é bem pequeno, assim como outras cidades da região. Casas antigas, algumas bem grandes e cheias de requintes da época em que foram construídas, outras mais modestas, dividem o espaço com o progresso que chega aos poucos: policlínica, hospital com maternidade, mini-shopping...
Quando fui a Dores do Rio Preto, com 10 para 11 anos, morava em Cachoeiro de Itapemirim, que é um centro regional, apesar de nem ser uma cidade tão grande. Quando cheguei lá, apesar da pouca idade que contava na época, me surpreendi com alguns aspectos da cidade, dos quais não me esqueci até hoje.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi que a cidade só tinha três ruas: a avenida principal, com as casas antigas, praças, igreja, prefeitura, escola, bares e lojas; a “rua de trás”, com as casas dos habitantes de maior poder aquisitivo; e o “morro”, onde se encontravam as casas mais simples. Na avenida principal existia até uma farmácia cujo nome, na placa, era escrito com “ph”!
Outro detalhe marcante foi a televisão na praça. Naquela cidade, por volta das 18h, alguns moradores se reuniam em uma praça para assistir às novelas e telejornais. Na época achei curioso, nunca tinha visto aquilo na vida. Hoje, entendo da seguinte forma: aqueles que iam até a praça assistir televisão não necessariamente não possuíam o aparelho em casa, mas, numa cidade onde pouco havia para se fazer, encontrar os vizinhos (sim, porque numa cidade de três ruas todo mundo é vizinho) para bater papo na praça e, ao mesmo tempo acompanhar novelas e notícias não deixava de ser uma forma de distração, um lazer.
Agora, creio que o que mais me marcou naquela viagem foram as brincadeiras das crianças (lembrando que eu também era criança na época). As primas menores da tal amiga da minha mãe e suas amigas da vizinhança jogavam queimado (a) com bola de meia! Na rua onde eu brincava em Cachoeiro, as crianças tinham bolas de borracha ou de couro sintético, e de repente eu estava brincando com uma de meia! Foi, sem dúvida, uma experiência interessante conviver aqueles quatro dias com uma realidade bem diferente da que eu estava acostumada, com brincadeiras e hábitos antigos.
Tenho vontade de retornar a Dores do Rio Preto, também conhecida por seus habitantes como “Divisa” (o primeiro nome da cidade foi Vila Divisa). As meninas com quem brinquei lá hoje são todas casadas, mães. Algumas se mudaram de lá. Soube de gente que atravessou a ponte e foi fazer faculdade. A velha avó da amiga da minha mãe já descansou, faleceu com mais de 90 anos, depois de ter criado muitos filhos e netos e ter conhecido um número razoável de bisnetos também.
Soube através da internet que hoje já existe hospedagem no sistema Cama e Café por lá. Também soube que ainda existe o balneário “Tô à toa”, um bar em cujo terreno existe uma pequena cascata cujas águas caem numa espécie de piscina de cimento e que, na época, fazia a alegria das crianças. Quem sabe eu não vá até lá quando tiver férias, para descobrir o que mudou e o que continua igual, naquele lugar onde me pareceu que o tempo parou?

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