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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A festa da mula-sem-cabeça


Há poucos dias, o post de uma amiga no Facebook me fez rir muito. Ela contava que perguntou à sua filhinha, que vai fazer cinco anos, se ela queria comemorar o aniversário com festa ou viagem, ao que a espertíssima criança respondeu: “eu quero uma festa da mula-sem-cabeça!”. Surpresa tipo “de onde ela tirou essa ideia?” da mãe e riso geral das amigas, até que, no mesmo dia, ficamos sabendo, pelo mesmo Facebook, que a menina havia tido contato recente com as lendas do folclore brasileiro, contadas por sua avó, e havia se encantado com a da mula-sem-cabeça.
No dia seguinte, ainda com esse episódio repercutindo na mente, fui para o Google procurar materiais de festa infantil com motivos do folclore brasileiro. Quantos vocês acham que eu encontrei? Sim, vocês acertaram: nenhum!
Nacionalismo barato não é nem nunca foi minha praia, mas o resultado dessa busca me inspirou algum sentimento “MV-Brasil” (sabem aqueles cartazes, comuns no Rio, com dizeres tipo: “Halloween é o cacete! Viva a cultura nacional!”?). Porque eu sei que o principal motivo de não se fazerem painéis e outros acessórios para festas infantis com tema das lendas nacionais é porque eles não vendem, e não vendem porque as crianças não se interessam.
Nada contra os desenhos da moda ou os temas clássicos como princesas e bailarinas, para meninas, e futebol, para meninos. Acho que qualquer motivo, quando bem explorado como tema da festa, fica muito bonito.
O pedido atípico da filha da minha amiga chamou minha atenção por outro detalhe. Não sei como é nos dias atuais, mas, quando eu era criança, folclore nacional era assunto obrigatório em sala de aula, tema de festas e atividades nas escolas. Será que ainda se faz isso nos dias atuais? Não sei, mas sou perfeitamente capaz de lembrar que, quando era criança, via alguns pais e mães de colegas minhas reclamarem que o ensino do folclore nacional nas escolas confundia as crianças em relação às religiões nas quais elas eram criadas. Além disso, como as pessoas adoram descartar a cultura local por considerá-la “pouco refinada”, como apresentar e, pior de tudo, transformar em tema de festa essas histórias de índios, escravos e “gente da roça”?
Assim, será difícil a filha da minha amiga ter sua festa da mula-sem-cabeça...

2 comentários:

  1. Nossa!!!! Que legal ruivinha linda!!!! ADOREI como você abordou a questão!!! De fato, me imaginei tentando elaborar uma festa da mula sem cabeça para a minha filha, mas, me perguntei aonde iria conseguir tempo, disposição, criatividade e paciência para orquestrar uma festa com o folclore nacional. Nós, brasileiros, estamos tão habituados a importar valores e padrões de fora que, quando somos surpreendidos por um pedido desse, como o de minha filha, ficamos sem saber o que fazer e para aonde ir. Na verdade, pela falta de tudo o que eu citei, estava mesmo rezando para que ela mudasse de ideia; no entanto, caso seja da vontade dela (fazer o que, né?), levarei a festa até as últimas consequências ... rsrsrsrs Quanto ao que você disse sobre a pouca importância que o folclore nacional tem na cultura e na educação brasileira, eu assino embaixo. Lembro que, nas aulas de moral e cívica, minha mãe sentava comigo para recortar desenhos em jornais e revistas que retratavam temas do folclore nacional para apresentar em sala de aula. Hoje, os professores mandam os alunos procurar temas na internet para apresentar em sala de aula. Nada mais do que um "copia e cola". Cadê a presença dos pais na educação dos filhos? Cadê os professores chamando os pais para a educação dos filhos? Cadê os professores introduzindo os alunos nos valores e na cultura nacional? De fato, nossa sociedade se perdeu em meio a tanta importação das culturas alheias. Enfim, minha amiga, esta festa vai dar um trabalho surreal ... mas, vai valer muito a pena!
    Obrigada pelo carinho!
    Beijos,
    Fernanda

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  2. Que bom que vc gostou, Fernanda, afinal, vc, sua mãe e sua filha foram as principais fontes de inspiração para esse texto. E se precisar de ajuda para organizar a festa, pode contar comigo. Beijos, Emília.

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