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terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Coração de vidro" revisitado

Coração de vidro é um livro escrito por José Mauro de Vasconcelos que marcou minha vida. Na infância, fui presenteada com ele por minha mãe, que exigia que eu lesse cada uma das suas quatro pequenas histórias em voz alta, durante quatro dias. Ela não se importava muito se eu entenderia o que cada uma daquelas narrativas significava, mas queria que eu adquirisse mais vocabulário e, por isso, me fazia ler essas coisas “de adulto”.
Cresci e, já no início da adolescência, passei a olhar o livro com outros olhos. As histórias do pássaro azulão (A missa do sol), do peixinho Clóvis (O aquário), do cavalo de corrida (O cavalo de ouro) e da mangueira que acaba reduzida da um resto de tronco (A árvore) me emocionavam muito, achava triste ver como a natureza era desprezada pelos seres humanos na fazenda em decadência que servia como cenário.
Existem livros que devem ser retomados de vez em quando. Cada um tem os seus preferidos e, entre os meus, está Coração de vidro. Livros revisitados sempre trazem percepções diferentes a cada vez em que os lemos. Recentemente, ao reler o pequeno livro de José Mauro de Vasconcelos, percebi que, mais do que mostrar a relação dos seres humanos com a natureza (relação que é, muitas vezes, de total desrespeito), cada uma daquelas historinhas que apresentam animais e plantas como protagonistas possui um forte elemento alegórico. Assim, notei que todos nós podemos ser parecidos com cada um daqueles seres tão bem descritos na obra.
A primeira das histórias, A missa do sol, em especial, me trouxe uma reflexão muito forte, que eu preciso compartilhar. Trata-se da vida de um lindo azulão que, entediado com a vida tranqüila junto a seu bando na floresta, resolve se aventurar nuns fios elétricos recém-descobertos na região e acaba preso em um alçapão. É levado para a cidade, conhece outro pássaro engaiolado, descobre o que são o exílio e a fuga e, angustiado por estar longe da vida que deixou na floresta, desiste de viver: não come, não bebe, não canta, até que, um dia, seu dono o pega com as mãos abertas e ele tem a oportunidade de fugir. Seu companheiro de gaiola canta para que ele fuja, mas, por ter deixado de se alimentar, o pássaro está fraco demais para levantar as asas.
Assim somos nós, que muitas vezes estamos presos em situações angustiantes, mas que, nem por isso, devemos nos deixar enfraquecer, pois nunca sabemos quando chegará a oportunidade de batermos nossas asas e levantarmos vôo rumo à liberdade que tanto desejamos. E, às vezes, essa oportunidade está bem ao nosso alcance e, por estarmos frágeis demais, a deixamos passar.

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