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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Cadê as mãos de ferro?


Uma crise assola o mundo árabe. Tudo começou com os protestos na Tunísia, depois vieram Egito, Iêmen, Jordânia, Bahrein, e agora a Líbia é a bola da vez. Em maior ou menor grau, os levantes que ocorrem agora chamam a atenção por um detalhe comum entre eles: todos se dirigem contra governos autoritários.
Não escrevo com grande propriedade sobre o tema, uma vez que essa não é a minha especialidade, mas não há como acontecimentos dessa magnitude passarem despercebidos. Uma nova página da história da região começa a ser escrita.
Diziam que o governo egípcio de Hosni Mubarak era forte e estável, que se perpetuava com sucesso há três décadas. De repente, articulações políticas da Irmandade Muçulmana, denúncias de corrupção conduzidas por figuras importantes como o ex-chefe da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) Mohamed El-Baradei e um povo que se cansou de viver aprisionado pelo regime político de seu próprio país derrubaram toda aquela “força” em poucas semanas.
É curioso observar que esses países são todos aliados estratégicos nos Estados Unidos na região, sobretudo Bahrein, no qual a V Frota da Marinha americana tem sua base para controle das operações no Afeganistão e das possíveis ameaças iranianas. A questão que se levanta é: como um país que diz defender a democracia e querer levá-la ao mundo inteiro se cercou de apoiadores ditatoriais em uma região considerada estratégica? A conclusão a que se pode chegar é a de que o governo americano, em troca de benefícios e facilidades, teria “fechado os olhos” para o que acontecia naqueles países, uma vez que eles não ameaçavam o Ocidente, suas populações estavam calmas e, aparentemente, suas economias caminhavam.
Quando menos se esperou, descobriu-se que a população era pouco beneficiada pelas riquezas que os governos acumulavam e, mais do que isso, que o povo sabia disso, e não aguentava mais. O mundo agora sabe que árabes também não querem ditaduras, que vão às ruas para derrubá-las, e que os cidadãos não vivem isolados em relação ao que acontece nas esferas do poder.
Algo que chamou bastante a atenção no caso do Egito foi a participação das mulheres nos protestos. Ainda que em quantidade bem inferior à dos homens, elas estavam lá, mostrando que sabem, sim, o que ocorre no país onde vivem, que não são simplesmente escravas familiares que vivem para agradar maridos, criar filhos e cuidar dos lares.
As imagens se sucedem nas fotografias de jornais e nas telas da TV. Algumas não têm sua veracidade confirmada, como no caso da Líbia, porque os governos proíbem a atuação de jornalistas estrangeiros nos países, mas, quando são vistos aviões militares solicitando asilo internacional, prédios públicos atacados e altos funcionários do governo abandonando seus postos, só há uma pergunta a fazer: cadê as mãos de ferro dos líderes que controlavam o povo? Onde está o poder ilimitado conferido pela posse das reservas de petróleo?
Os fatos se desdobram diante dos olhos do mundo inteiro. As cenas dos próximos capítulos são aguardadas com ansiedade. E não importa quantos governos sejam derrubados, se todos ou se apenas os que já caíram (Tunísia e Egito), o mundo árabe, através da sua população, terá conseguido dar seu recado, que diz que o Ocidente não deve mais isolá-los, pois, independente da forma, eles querem o mesmo que nós.

2 comentários:

  1. Emília,
    A condição feminina no mundo árabe é muito, muito diversa em cada Estado - e em cada uma das várias divisões do Islã.
    Dito isto, as mulheres egípcias possuem uma liberdade muito próxima à Ocidental. Elas estão LONGE do modelo "Amélia" que você descreveu - a Arábia Saudita é que se encaixaria nessas cores...

    Veja bem - isso não impede que uma lorinha, sem hijab e cheirando a cheesburguer, seja estuprada por um grupo de homens ao ar livre, como foi a repórter da CBS (http://www.nypost.com/p/news/international/cbs_reporter_cairo_nightmare_pXiUVvhwIDdCrbD95ybD5N).

    Enfim, só pra dizer que análises de gênero no Islã estão longe de serem fáceis, homogêneas e obedecerem à caricaturas.

    Abraço!

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  2. Marcelo,

    A ideia não era mesmo fazer uma análise de gênero, o que demandaria muito mais espaço do que esse texto curto. Mesmo sabendo que as mulheres no Egito, Argélia e até em algumas regiões do Marrocos possuem bastante liberdade, eu não podia deixar de comentar o quanto a participação delas nos protestos é interessante aos olhos de quem está do outro lado.

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